quinta-feira, 20 de abril de 2017

Biomecânica dos discos intervertebrais



1.   Características dos discos intervertebrais

Para que possamos falar sobre a biomecânica dos discos intervertebrais, primeiramente devemos saber o que é um disco intervertebral e quais suas características.
O disco intervertebral pode ser descrito como um disco fibrocartilaginoso que se localiza entre as vértebras da coluna vertebral, que por sua vez faz o trabalho de articular uma com as outras, sendo assim validando a rigidez e a flexibilidade da coluna, sendo então que a coluna é responsável por sustentação do peso do corpo (suporte), movimentação do tronco e ajuste da posição, o disco intervertebral por sua vez é o grande responsável pelas articulações entre as vértebras, e entre articulações dos arcos vertebrais.
Pode dizer que então o disco vertebral é um sistema hidráulico e complexo, que tem a função de absorver choques da coluna vertebral, pois ele permite uma compressão transitória, devido ao deslocamento do liquido dentro do continente elástico.



O disco intervertebral é composto de anel fibroso ou anulo fibroso, e núcleo pulposo, sendo que o primeiro é uma estrutura composta de lamelas de fibras colágenas, gel proteoglicano, que previne deformações através de torções, e o núcleo pulposo é um gel semifluído que corresponde de 40 a 60% do disco.
Ele é composto de um material cujo qual se chama mucóide, que na primeira década de vida, existe poucas células notocordiais, e na segunda década em diante é substituído por uma fibrocartilagem que então começa a acomodar as vértebras e permitir a compressão entre elas.






2.   Conceitos de biomecânica e influencias nos discos intervertebrais;
Na física a alavanca é um objeto rígido que é usado com um ponto fixo apropriado, com a intenção de multiplicar a força mecânica aplicada a um objeto (resistência).
Na biomecânica temos três tipos de alavancas, que estão presentes no corpo humano.
A primeira: interfixa ou de primeira classe, onde o eixo fica entre a força e a resistência.
Quando então pensamos em vértebras temos uma alavanca interfixa, onde o ponto de apoio é na vértebra, e funciona para manutenção do corpo ereto.
A segunda: Interpotente ou terceira classe, onde a força potente esta entre a força resistente e o ponto fixo, no corpo humano tem a pinça (mãos), cotovelos, ombros e tronco.
A última seria: inter-resistente ou segunda classe, a força resistente esta entre a força potente, ponto fixo.



Exemplo de alavanca interfixa (coluna vertebral e discos intervertebrais)



 Interfixa

Então se separar por segmentos pode ter seguintes alavancas e movimentos articulares, como segue abaixo:
Em nossa cabeça temos as articulações intervertebrais e atlantoaxial, que podem realizar movimentos de flexão, extensão, hiperextensão, flexão lateral direita/esquerda, rotação direita/esquerda circundução. As vértebras são atlas e axis (C1 e C2) e C3 à C7.
Já em nosso tronco onde se localiza as vértebras torácicas que se encontram as vértebras T1 à T12, neste segmento temos a articulação intervertebral que realiza movimentos de flexão, extensão, hiperextensão, flexão lateral direita/esquerda, rotação direita/esquerda.
Como podemos ver a coluna vertebral realiza vários tipos de movimentos articulares, onde em cada um exerce um tipo de compressão diferente nos discos intervertebrais devido a diferentes ações biomecânicas, pensando nas curvaturas fisiológicas da coluna, lordose cervical, cifose torácica, lordose lombar e cifose sacral, podemos pensar também nos diferentes tipos de pressão que temos nos discos intervertebrais tais como: compressão, tensão, cisalhamento e torção.
Compressão: cargas excessivas ou prolongadas na coluna, e também nos discos intervertebrais.
Tensão: é um tipo de força que atua sobre a coluna na parte distal da vértebra.
Cisalhamento: tensão gerada na coluna por forças aplicadas em sentidos opostos, mas em direções semelhantes.
Torção: rotação em sentidos opostos das vértebras.
Em todos estes casos, é comum um desgaste do disco intervertebral, que de forma acentuada, pode causar discopatia degenerativa (desidratação dos discos intervertebrais) mais comum na região lombar onde pode ser desencadeado por vários processos inclusive o mecânico, mas isto não significa que esta pessoa terá dores, a discopatia esta relacionada ao envelhecimento natural da coluna, porem muitas doenças está associadas a isto como, por exemplo: protusão discal, hérnia discal, estenose do canal cervical ou lombar e os discos-osteofitários ou popularmente bico de papagaio.
Também relacionado ao desgaste dos discos intervertebrais esta o trauma, estresse, idade como já mencionado, má postura esta ligada diretamente a biomecânica da coluna por desconhecimento da ergonomia.
Outros fatores que podem mudar a biomecânica dos discos intervertebrais por adaptação em relação à condição física é a gravidez, que acentua a lordose lombar (hiperlordose), aumentando a pressão sobre os discos intervertebrais, e a obesidade que também contribui para possíveis dores na coluna em conseqüência da pressão gerada nos discos intervertebrais, uma vez que em ambos os casos a ação mecânica não é só uma adaptação da coluna ao estado físico do individuo, mas sim também adaptações musculares.
Sendo assim podemos afirmar que para evitar problemas discais intervertebrais, é importante desenvolver um bom condicionamento físico, particularmente a resistência e o fortalecimento muscular, o alongamento e a flexibilidade, junto é claro com uma boa alimentação para manutenção do peso.


3.   Variáveis biomecânicas dos discos intervertebrais, posturas e ergonomia.
O posicionamento das curvas naturais da coluna como lordose cervical, cifose torácica, lordose lombar e cifose sacral, este diretamente associado com a distribuição de pesos na coluna vertebral.
A postura sentada reta cria uma tensão nos isquiotibiais e no glúteo por haver uma retroversão da pelve, isso gera uma sobrecarga compressiva nos discos intervertebrais e acarreta também a fadiga muscular dos eretores espinhais.
Ainda falando da posição sentada, estudos apontam que a posição sentada cifótica da coluna lombar, que tem por sua vez a característica de fazer um ângulo entre as vértebras S1 e L1, pode aumentar em 85% a pressão intradiscal se este ângulo for < ou igual 22%, e algo ainda mais relevante é que durante muitas horas nesta mesma posição (mais de 6hs) acarreta em uma redução da altura dos discos intervertebrais em 2,1mm.
Se comparado com a posição sentada lordótica, esta ultima mostra levar menos pressão nos discos intervertebrais, resultado da baixa tensão nos ligamentos posteriores e menos ação dos músculos extensores da coluna (menor fadiga muscular).
No entanto se comparado com a posição em pé os valores são semelhantes.
Nos aspectos ergonômicos da posição sentada, fica claro que a maior parte do peso do corpo, é transferida para uma área de suporte, sendo esta a isquiática e os tecidos moles, então se não existir um suporte ou apoio correto para esta área (lombar) a pressão intra discal é de 35%, ou seja, é uma posição que também pode trazer dores devido à ausência da ergonomia correta.
Suportes ou encostos adequados para indivíduos nesta posição ajuda a diminuir a pressão intradiscal, minimizando assim os impactos ao longo do tempo.
Se tratando das variáveis biomecânicas e levando em consideração o levantamento de peso excessivo como: trabalhos físicos pesados, levantamento e transporte manual de carga, trabalhos estáticos, e atividades que exige movimentos de rotação e flexão da coluna, existem pesquisas utilizando procedimentos biomecânicos e recomenda-se que a carga deve ser levantada o mais próximo possível do corpo, posicionar os pés corretamente, evitar torção do eixo vertical da coluna e segurar a carga com ambas às mãos auxilia na redução da curvatura da coluna e a pressão dos discos intervertebrais.
Outro ponto que mostra uma degeneração dos discos intervertebrais por erros de execução de movimentos e desconhecimento da biomecânica são os levantamentos repetitivos, pois pressões sobre o disco intervertebral de forma repetitiva e freqüente pode acelerar tal processo, levando a perda de amortecimento dos discos intervertebrais.
Desta forma as alterações funcionais e estruturais durante o envelhecimento e degeneração podem alterar o comportamento mecânico dos discos intervertebrais.


4.   Conclusão
Podemos então afirmar que os principais problemas relacionados à coluna vertebral e o desgaste prematuro dos discos intervertebrais, esta associado à má postura, levantamento de peso excessivo, levantamentos repetitivos entre outros fatores que aumentam a pressão sobre os discos intervertebrais.
Tais fatores estão associados ao pouco ou nenhum conhecimento de ergonomia e principalmente da biomecânica, pois ambas contribuem e atuam juntas para sanar tais problemas mencionados nos discos intervertebrais, mas não podemos de deixar de falar dos treinamentos de força para fortalecimento muscular e redução do estresse sobre a coluna vertebral, pois o treinamento de força junto com o aumento da massa muscular e preparação dos músculos responsáveis pela estabilização da coluna geram uma melhora considerável uma vez que a sobrecarga não estará sendo produzida/gerada diretamente sobre a coluna (vértebras), a manutenção de uma vida saudável, como atividades físicas, práticas nutricionais adequadas para controle de peso, e uma orientação profissional de qualidade, enfatiza a esta melhora.
A busca pelo conhecimento da biomecânica esta associada de forma significativa para prevenção de problemas na coluna e degeneração precoce dos discos intervertebrais, pensando nos diversos tipos de usos da biomecânica como cadeia cinética aberta, onde esta compreende o uso de apenas uma articulação, e cadeia cinética fechada onde mais de uma articulação esta envolvida, é evidente que podemos assim elaborar protocolos de treinamento preventivos, reabilitativos e protocolos de manutenção para o individuo.
Os demais fatores como obesidade, este associado ao desequilíbrio alimentar e gravidez devido ao espaçamento entre os segmentos inferiores da mulher mudando assim o centro de gravidade e aumentando a compressão dos discos intervertebrais devido a acentuação da lordose (hiperlordose), não deve ser ignorado e deve ser bem trabalhado para uma boa qualidade de vida e manutenção da saúde da coluna evitando as patologias mencionadas neste texto.


1.   Bibliografia
LOTZ, J. C.; HSIEH, A. H.; WALSH, A. L.; PALMER, E.; CHIN, J. R. Mechanobiology of the intervertebral disc. Biochemical Society Transactions, v. 30, n. 6, p. 853-858, 2002.

HOPPENFELD, S. Propedêutica Ortopédica: coluna e extremidades. Ateneu: São Paulo, 1999.
ANDRADE, A.A; Que é discopatia degenerativa. Campinas, São Paulo.
Disponivel em:

ÂNGELO, O.C.RITA. ET AL  Morfologia dos discos intervertebrais. Recife Pernambuco. Disponível em:http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/traumato/discopatias.htm

RICARDO S F LEITE
PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
UNIVERSIDADE PAULISTA UNIP - CAMPINAS - SWIFT